Primeiro "encontro"


Aula de redação. Inútil e tediosa. Ele está sentado na carteira vizinha, ambos na primeira fila. A proximidade do professor não foi o bastante para intimidar Pedro. Foi assim que ele iniciou nosso primeiro diálogo. 

"Pedro - Lá fora, as meninas estão conversando em voz alta. Sabe por que eu não posso me juntar a elas? Porque eu já saí do anonimato nessa aula. Se fosse Kenji, eu já estaria lá. Antes, o professor nem sabia meu nome; agora sabe o sobrenome, a escola literária preferida e que vou fazer letras. Lutei por ser notado. Involuntariamente, é verdade. Agora tenho saudade dos primeiros dias. E toda sua liberdade.
Cecília – Essa aula faz doer teu coração também?
Pedro – Não. A aula é enfadonha. O coração é só um músculo que bombeia sangue.
Cecília – Chato2. Me admira você, um amante da literatura, um cara sensível e observador não entender uma metáfora tão simples.
Pedro – Que comentário destruidor. Eu poderia cair morto depois de um tiro como esse. Você é sem-dó². Pô, eu estava brincando...
Cecília – Qual é a tua escola literária preferida?
Pedro – Realismo. No Brasil, começou em 1881, com Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis. Tem a ver comigo. Olho para as pessoas e vejo... as pessoas. Só isso. Não são mais do que pessoas. Reconheço que, às vezes, por descuido, mostro traços de outras escolas. Na essência, é Realismo.
Cecília – Eu também, porém, por causa de Capitu. Ela é fascinante, uma personagem muito bem feita (talvez a melhor). Analisá-la é intrigante, mas gosto dela, a entendo, a admiro e, algumas vezes, me identifico com ela.
Pedro – Estou perplexo. Deveria até ter usado um ponto de exclamação. - !!! um monte. É uma das melhores, mesmo. Se você tem um pouco dela, tem muito de mistério, serenidade, segurança, decisão e beleza. Não conheço você tão bem quanto conheço Capitu. Só o que vi de você foi o último dos adjetivos que enumerei. Pronto. Fim da aula."

Não é o que eu chamaria de um primeiro encontro convencional. Esse início está mais para "pedras e livros". Quem poderia prever o romance que estava por vir e todas as pétalas que guardaria "Dom Casmurro"?

Comentários

selmak disse…
Quem poderia imaginar, que esse primeiro "encontro", fosse a pedra fundamental de um grande edifício!?E dia a dia, as pedras vão se agregando, rejuntadas por um amor tão lindo e verdadeiro! Deus os abençoe muito. Bj
Pedro SOUSA disse…
Foi legal relembrar esse episódio. Pois é, quem diria? :)
Cecília Sousa disse…
Gostei da imagem, vó!
"E dia a dia, as pedras vão se agregando, rejuntadas por um amor tão lindo e verdadeiro!" Tem que ser sólido, né?

Beijo grande.
Thierry disse…
Que bonito! Poético desde o início, hem?
Valéria disse…
Tão bom saber os detalhes do primeiro encontro....abençoado este blog!!Rsrsrs..só assim pras mães terem acesso aos detalhes!!
Cecília Sousa disse…
kkkkkk Você bem que podia ter perguntado antes, Valéria! Eu teria contado. Esqueci de precisar que esse diálogo foi por escrito. Eu ainda o tenho. O texto tá 100% fiel ao original =P beijosss
Anônimo disse…
achei fofo esse blog, história linda e Deus junto disso tudo! que legal!!!! Vou ler desde o começo pra entender melhor....é tao lindo poder escrever o que nos faz feliz e também o que nos dói (sei bem p que é isso), mas o bom é que no final de tudo Deus transforma em poesia! God bless you!

Postagens mais visitadas deste blog

Barriga de 5 meses (21 semanas)

Renovação de votos - 11 anos - Cecília