Gravida radical


Subi lentamente nas pedras. Cheguei perto da beirada para avaliar a distância das pedras, quão longe eu deveria pular, se não havia risco de alguma onda me empurrar contra a rocha, etc. Senti medo, muito medo. Mas Mikaël e Mel já haviam pulado e tinham sobrevivido, por que não eu? Além do mais, racionalmente, tudo parecia seguro, dada a circunstância. Afinal, seguro mesmo é não sair da cama. E incrível como não conhecemos o próprio corpo. Passamos uma vida inteira sem usa-lo como poderíamos e temos a impressão de não sermos capazes de fazer as coisas mais simples, às vezes.
Vendo o vídeo, percebo o pânico nos meus olhos. Os meninos me incentivavam. Eu queria muito pular! Deixo claro que a iniciativa foi minha, eles insistiram uma vez que eu estava na beira da pedra, hesitando a pular. Mikaël pressionava: "Posso parar de filmar?" Ao que eu respondia firme: "Não!" Mel decidiu pular comigo pra me encorajar. Contou até 3 e... pulou sozinha. Não consegui. Mas desde o inicio da contagem eu tinha percebido que não pularia.
Eu sentia um desejo profundo de ultrapassar os limites, de mostrar pra mim mesma que eu era aventureira, de fazer essa surpresa pra Bernardo. Ao mesmo tempo, um medo gigante de ser imprudente e machucar aquela criaturinha indefesa à mercê dos meus caprichos e, por outro lado, medo de perder a oportunidade de viver algo único com Elias por excesso de cuidado. Como saber? Eu precisava tentar! 
Assim, apos quase 8 minutos de análise, hesitação, conversa metade em francês metade em português. Comecei a contagem e sabia que pularia. Pulei gritando. Mergulhei fundo, gostoso, sem medo e esperei o momento em que meus pés tocariam o chão, mas não. Fui apenas desacelerando e quando a agua fez resistência o bastante para conter o mergulho, nadei em direção à superfície. Nem sombra do medo. A agua estava bastante gelada. Logo depois Mel pulou pra me acompanhar. Eu gritava: "meu Deus, eu pulei!" Poucas vezes me senti tao viva! Descobri que o Mediterrâneo é muito mais salgado que o Atlântico. Minha pele ardia no rosto, nas pernas. O frio impelia a nadar pra fora d'água. 
No final, a dedicatória aquele sem o qual eu nunca teria forjado a Cecilia que sou hoje: "Bernardooo!"

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